23 de agosto de 2005

Corto


Acho que muitos de nós gostariam de ser o Corto. Corto Maltese. Participar em revoluções na América Latina. Viver paixões na Europa românctica. Ser livre como o Corto - liberal como o Corto - intelectual como o Corto - enigmático como o Corto.

Por muito bem que nos saiba uma vida calma e sem sobressaltos - em que tudo segue o caminho devido e até as surpresas são previa e escrupulosamente planeadas - há um dia ou outro (semana, mês...) em que gostávamos de ser o Corto Maltese - eu sei que gostava! Largar tudo e partir à descoberta de novos mundos. Apaixonarmo-nos por mulheres que trazem o perigo no corpo. Ter como rotina a incerteza e surpreendermo-nos com tudo o que nos rodeia. Após uma geração falsamente idealista dos anos 60 e 70 (afinal, eles são nossos pais e levam uma vida ordeira e conformada) e uns anos 80 que apenas marcam por terem afirmado a "martelada" como suposta forma musical, chegou a nossa época. Somos a geração do hei-de, do esperem e verão... somos os inconformados que não se dão ao trabalho de mudar seja o que for. Mas exaltamos em demasia as nossas capacidades de imaginar um mundo melhor.

Talvez um dia eu seja como o Corto. Corto Maltese. Aliás, tenho a certeza de que um dia eu e o Corto seremos companheiros de viagem. Mas, até lá, terei de me contentar em jogar semanalmente no Euromilhões e ler os livros do Hugo Pratt e do Al Berto (esses sim, verdadeiros companheiros do Corto). Já é um princípio!... Tenho muito tempo para ser revolucionário, apaixonado, livre, liberal, intelectual e enigmático como o Corto.

Mas não tenho a certeza de estar convencido disso...

R.


P.S. na mesma noite, no Lugar da Rosa

7 comentários:

polegar disse...

é complicada a noção de que, por vezes, não estamos, afinal, a mudar nada ou a ser em nada diferentes. sem entrar em dissertações pseudo-intelectuais, o facto é que a sociedade de hoje em dia é exigente e deixa pouca margem para se fazer aquilo em que se acredita. temos sempre as contas para pagar, e inevitavelmente vamos contribuir para a dívida nacional.
mas é em Corto e outros como ele que encontramos as noites quentes de cigarros e tango. quem sabe podemos mudar um bocadinho? e quando chegar a nossa altura, esperamos que alguns de nós se lembrem e, enquanto pais, não autorizemos que os nossos filhos sejam conformados... pelo menos tanto...

angel_of _dust disse...

pergunto eu: será que o que ainda podemos mudar é apenas um bocadinho? será que iremos aos nossos filhos a não serem tão conformados?

parece-me tão pouco...

Anónimo disse...

Não vos conheço pessoalmente. Só ao vosso roçajar de íntimo que é um blog. Intrometendo-me descaradamente no vosso diálogo...eu sempre quis não seguir a norma (tenho problemas de pele para com os rebanhos) e agora encontro-me no dilema moral mencionado pela polegar: pagar as contas ou viver intensamente? Será possível conjugar as duas coisas (dentro do normal em Portugal?)...
Bem...hei-de resolver estas dúvidas. Quanto ao tango, deixo uma sugestão em www.ilcru.blogspot.com

Beijinhos a ambas...

polegar disse...

angel, podemos mudar. ponto. mas temos de estar dispostos a sofrer as consequências. não é simplificar mas ter noção do que acontece. podemos sair-nos bem, podemos tentar conciliar, ou podemos conformar-nos. temos escolhas, são caminhos idiotas muitas vezes. se puder mudar um bocadinho, ter felicidade e equilíbrio dentro de mim, consegui. seja de acordo com as normas ou não. eu conformar-me não sou capaz. estou a tentar conciliar. porque os projectos entrecruzam-se. misturam-se e queremos mais do que uma coisa ao mesmo tempo. mas há coisas de que não abdico. venha quem vier. e tu?
blog: vou espreitar-te. mas enretanto: o angel é muito gajo! :P

angel_of _dust disse...

polegar: tenho que admitir que tenho "fases". já fui mais rebelde, tentando sugar o tutano da vida... depois, acho que procurei (precisei?) algum conformismo, alguma calma. é mais fácil, à primeira vista, seguir uma norma já bem assente e regrada, ao invés de trilhar (muitas vezes sós) a nossa própria rota de navegação.

neste momento, acho que estou a precisar novamente de mais. quero novamente olhar a noite e a lua de frente (frase de um amigo que não vejo há muito - ele assim definia esta 'inquietude da alma'). preciso novamente de me perder, para que volte a encontrar o eu que me agrada... o blog é mais uma "acha para essa fogueira".

ou seja, pressinto mudanças para breve - vamos a ver o que dá!

angel_of _dust disse...

... apropósito, qu'é essa do angel ser muito gajo, ahnn?! LOL

Anónimo disse...

Não duvido que o angel seja muito gajo. Também não estou numa de engate cibernáutico ;)

Beijos, abraços e felicidades