18 de agosto de 2005

Não poderemos nomear

Pedes-me para te dar respostas... para desvendar esse íman que me levou na tua direcção, esse condão que me iluminou uma destas noites. Sinceramente, não sei responder... que será que nos leva a "chocar" com alguém? Não poderemos nomear de palavras o puro pensamento que se ilumina, quando navegando no mar de bits e bytes, o nosso olhar se prende numa mensagem deixada ao acaso(?) num écran?

Ao invés, talvez te possa desvendar um pouco sobre mim, sobre o que faço quando não me refugio na lua, na praia, na chávena de café e no livro já gasto de tanto ler.
Ensinaram-me a olhar para as pessoas, a vê-las na sua labuta diária, nas suas escolhas... nas suas obrigações. Esperam agora que faça isso, que descubra quais as razões que nos motivam a viver uns com os outros, o porquê de seguirmos por aqui, em vez de irmos por ali, ou por ainda mais além... Espero consegui-lo fazer, mas tenho receio (ou será preguiça) de falhar. Tenho de receio de não saber como procurar, ou de saber como procurar, mas não mo deixarem fazer.

Outras vezes, exponho-me perante os outros... mostro algo que, não sendo meu, tem tudo de mim... dizem-me o que fazer, o que mostrar – mas uma parte de mim é dada aos outros – é dada com os outros. E embora me exponha, gosto. Por vezes, sinto mesmo necessidade – já não me imagino sem isso.
E assim passo os meus dias: vendo e fazendo – analisando e agindo... Sempre à espera que alguém se sente à minha mesa do café, e partilhe comigo o seu livro. Que alguém esteja disposto a ver o sol nascer e morrer, sem precisar de uma razão para tal. E assim passarei os dias, as horas, os minutos – o lento centrifugar dos segundos.

E tu? por onde andas... o que fazes? que te levou a esbarrar comigo nestas noites de silêncios e murmúrios? O que vês à tua frente, quando bebes a última gota do sangue da cidade, quando as suas veias se abrem para ti como portões de um qualquer palácio? A minha curiosidade também é grande. O meu caderno de memórias precisa de te imaginar, de te "criar"...

Faz um mapa do tesouro... o meu barco já levantou âncora.

R.

4 comentários:

polegar disse...

quem és e como és é um pouco dos outros também. e de como te vêem.
não tens medo de "criar" e "imaginar" alguém que depois não corresponda ao quadro que pintaste?
é sempre um risco. temos dias e corações e feridas que nos fazem estar ou não disposto a corrê-lo. admiro-te por tu estares.

angel_of _dust disse...

realmente, o problema da "criação" é de a realidade não corresponder à imagem que criámos. mas, de qq forma, desde muito cedo me convenci que este acto é inevitavelmente egoísta e solitário: criamos imagens para que elas possam ser o suporte para os nossos sonhos, memórias e expectativas.

quanto à imagem adequar-se ou não à realidade (mas não serão sempre imagens? um senhor chamado goffman achava que sim...) é um dos riscos de os humanos e os anjos terem emoções - preferimos a ilusão e criação à razão e constatação.

talvez por isso, é-me impossível deixar de "criar" e "imaginar" os outros - as minhas asas precisam disso ;)

polegar disse...

qualquer voo precisa de sonhos. são eles o vento nas asas. e, acredita, cá na terra :P também se voa assim, arriscando, dando, voando. sabendo que se pode vir a cair.

angel_of _dust disse...

... mas abaixo do chão é impossível passar. por isso, a única solução é tentar voar novamente, e novamente...