30 de janeiro de 2006

Estamos ligados por penas

::: escrito e sentido com o anjinho azul :::

1.

- Hoje tinha vontade de estar no teu colo, envolta nas tuas asas.

- Eu tinha vontade que as minhas asas tivessem o tamanho do mundo - para que pudessem abarcar todos os teus desejos, esperanças, saudades e memórias. Hoje, tinha vontade de ser o teu mundo.
- Tu és o meu mundo, em cada momento que partilhamos.
- Em que partilhamos as asas - as minhas vermelhas, as tuas do azul do mar - e em que partilhamos um universo só nosso.
- Porque são azuis as minhas asas?
- Porque quero ser fogo e tu água, quero ser terra e tu céu - só existem um em relação ao outro, assim como nós.
- Azul é a minha cor preferida. Ainda me lembro quando, em criança, me ralhavam por só pintar a azul.
- Para mim, poderás pintar sempre de azul. Para mim, o mundo é, a partir de agora, azul e apenas azul.

2.

- Inquietas-me. Perco-me completamente contigo; estou a procurar-me (parece que moro fora de mim).
- Inquieto-te? Em quê?
- Nos sentidos, na alma - às vezes, perco-me de mim - às vezes, deixo de saber quem sou. Sabes aquele sentimento de desprendimento de nós mesmos, aquele desejo intenso de entrega ao outro?
- Claro. Temos sempre medo desses sentimentos - quando deviamos "correr" para eles, como só o desprendimento fosse o elíxir da vida eterna.
- Eu quero ser tua. Quero perder-me em ti.
- Queres ser a água que vai tornar o meu fogo mais brando - o céu que se reflecte na "minha" terra?
- Não, não quero mudar nada em ti. Só perder-me em ti - perder-me contigo.
- Quem sabe se, no meu vermelho, não existe um toque de céu também - e se o teu azul não poderá ganhar o vivo do fogo?
- Seremos um só?
- Estamos ligados por penas - não penas de um qualquer pássaro que migra com a chegada do Inverno, mas penas da alma: eternas e pulsantes.
- Apetece-me sentir, muito mais do que dizer.
- Mas liga-te à minha alma - à nossa alma. Sente o que quiseres, sem prisão; diz o que desejares, sem obrigação. Eu estarei aqui para sentir contigo.
- E queremos sentir as mesmas coisas?
- Diz-me o que queres sentir.
- As tuas asas em volta do meu corpo. A cumplicidade das tuas penas.
- As minhas asas são tuas, a partir de agora - sou um anjo sem asas. Faz delas o que entenderes.
- Não quero tirar-te as asas.
- Então, dou-me a mim próprio, com as asas bem armadas e prontas para te acolherem.
- Sim, eu quero-te a ti; com as tuas asas num abraço ao meu corpo.
- Lembras-te da nossa "promessa" de cruzarmos a noite juntos?
- Mas as nossas vontades, os nossos desejos, podem não se cruzar.
- As vontades e os desejos não têm poder sobre si - são nossos, para que os possamos encher de necessidades e memórias. São nossos...

3.

- Quero sossegar em ti...
- Quero ser o teu sossego...
- ... sentir o roçar de pele, de penas, de alma.
- ... sentir o calor dos corpos, dos sonhos, da alma.
- Quero aconchegar-me em ti.
- Quero aconchegar-me em ti.
- Quero desenhar-te com as pontas dos dedos.
- Quero ser tela e tinta para a tua alma.
- Sentir o teu coração a bater junto ao meu.
- Sentir o meu coração a bater no teu.
- Vem.
- Vou. Mas acende a luz do teu quarto - quero voar direito a ele. Não me quero perder...
- ... perde-te - em mim.

R+C

5 comentários:

polegar disse...

maravilhoso voo.

angel_of _dust disse...

... vôo nocturno, a rasar o topo dos prédios - seria tão bom que pudessemos ter sempre conversas assim.

enfim... é ir tentando

Anónimo disse...

:)

angel_of _dust disse...

... por vezes, uma imagem vale bem mais que mil palavras (cliché, é certo - mas muito verdadeiro).

... por vezes, um sorriso diz tudo ;)

Anónimo disse...

cumplicidades :)
uma outra forma de nos ver