13 de fevereiro de 2006

O sol e a lua

Gosto de ti, pronto... não sei porquê, mas é assim. Somos tão diferentes, mas gosto de ti.

Tu és sol - amas o dia. Eu sou lua - amo tudo o que é escuro. Tu amas a ideia da 'grande família', da pandilha de amigos. Eu, há muito que abracei a solidão interior - mesmo rodeado de gente, eu estou sempre comigo. Tu gostas de longas tardes junto ao televisor. Gostas de dias sem fazer nada - gostas de estar. Eu não passo sem as luzes das ruas pela noitinha. Amo olhar o rio, ver os seus reflexos debaixo da lua. O meu mundo apenas se constrói na boémia, no deambular pela cidade deserta, fugindo das conversas de ocasião. A ti, quem te tira a calma, a pacatez, tira-te tudo. Nunca gostaste de grandes confusões. Eu não consigo estar parado - todos os dias têm, obrigatoriamente, de ser diferentes.

Acho que sempre tive medo que se esquecessem de mim - sempre receei passar pela vida sem dar notícia. Tu gostas de passar despercebida, gostas que te deixem viver desapercebida para todos. Falta-me sempre arriscar mais - tu achas que arriscas demais. Os nossos caminhos cruzaram-se por acaso (destino?). Se por um acaso não tivéssemos tomado uma decisão igual num igual momento, nunca teríamos partilhado o mesmo espaço, nunca teríamos visto o mesmo horizonte. Dois percursos bem distintos que se tocaram quase sem querer. Dois percursos que agora parecem quase indissociáveis - por qualquer razão (des)conhecida... Não sei se nos complementamos, porque, na verdade, somos bem distintos. A verdade é que ainda não descobri a ponte que construímos entre nós. Descubro sim, todos os dias, que essa ponte é mais forte que alguma vez pude supôr.

E, assim, eu encontrei-te - ou melhor, foste tu que me descobriste. E, como tudo o que é bom na vida, outro mundo nasceu perante os nossos olhos. Cresceu - ou melhor, vai crescendo - mesmo sem ser regado com a força que queríamos, com o empenho que devíamos. O sol ajudou a lua a gostar um pouco mais da cor. Não deixei, é certo, de gostar da solidão. Mas aprendi que também é possível ser feliz acompanhado - que as luzes da noite e os copos dos bares sabem melhor quando trocados com alguém. E espero que o sol também tenha ganho na "troca"; que saiba que é possível ir mais além - querer mais hoje do que quisemos ontem. O sol tanto projecta luz como sombra - a lua, no seu breu, também ilumina. Por isso, preciso de ti - sou carente do teu calor, como sou carente de te oferecer o meu luar. Encontrei em ti um alvo do meu egoísmo: todos os dias, todas as horas, preciso de te dar algo - todos os dias, todas as horas, preciso que te dês a mim.

Não sei se esta partilha será eterna - não quero saber se esta partilha irá vingar. Mas aqui e agora, sei que o nosso caminho é apenas um único. A vida é feita do sol e da lua - do dia e da noite. E naqueles breves momentos quando o sol e a lua se encontram, quando a madrugada ou o anoitecer acontecem, sei que isto pode durar.

E será aí que estarás sempre - na minha carne e na minha mente... sempre.

R.


P.S.1 para ti - obrigado por tanta coisa
P.S.2 vai continuando por aqui... eu vou tentar o mesmo

8 comentários:

Nuno Guronsan disse...

Reconheci-me muito em coisas que aqui escreveste, tanto do lado mais agitado, como do lado mais solitário, pois são estados de espírito entre os quais balanço. Obrigado pela partilha das tuas palavras.

angel_of _dust disse...

sim, por vezes somos sol e lua, dia e noite... por vezes, mais do que conciliar dois percursos-pessoas, temos de conciliar dois percursos-interiores

...e sabes?, cada vez mais me convenço que é mais fácil adaptar-me ao outro que a mim próprio - 'viver com' que 'viver em'.

obrigado por teres passado por aqui :)

Anónimo disse...

talvez porque hoje é o dia em que muitos são forçados a lembrar que amam, a mim, hoje não me apetece amar, muito menos acreditar no amor.
amanhã?... quem sabe?

angel_of _dust disse...

mel: realmente, calhou hoje este texto - mas espero que a "ele" não fique preso.

acho que, por vezes, apetece-nos refazer a vida toda - outros dias, louvar o que temos ou tivemos um dia.

hoje apeteceu-me isto :)

polegar disse...

gosto de impulsos, de apetecimentos, sem data marcada, sem regras nem deveres. o dia não importa, importa o momento do apetecimento. e esta tua partilha, além de absolutamente íntima, é deliciosa. obrigada

angel_of _dust disse...

amor é, mais do que um qualquer s. valentim, dar algo apenas pelo prazer de dar - receber um presente e agradecer mesmo antes de o abrir...

... este post é uma oferta para quem a quiser aceitar - para mim, é um presente passares por aqui :)

polegar disse...

então, damos um ao outro nesta medida de palavras porque partilhamo-nos assim :)

Anónimo disse...

só hoje cheguei aqui, a este blog. e confesso que fiquei "presa". Este post, entre outros que já li, põe por escrito momentos que tenho vivenciado e sentido na pele. Como é possível os momentos multiplicarem-se em mundos diferentes, em horas diferentes?
Gosto da forma como te expressas, de saber que afinal existe alguém que expressa melhor que eu as mesmas sensações.
Desculpa entrar aqui do nada, ainda por cima como anónima. Mas é a primeira vez. Promento voltar e, quem sabe, identificar-me.
Para já deixo os parabéns e o obrigado por partilhares estados de alma num blog.