8 de março de 2006

Deriva

O meu barco, neste momento, deriva... acho que preciso de um farol que me alumie o caminho até terra.

Há muito que ando no mar, buscando já nem me lembro o quê - um porto seguro, uma aventura de piratas e corsários, afundar-me em mar alto... Talvez por andar "perdido", fui registando as minhas viagens, com quem me cruzei; talvez por isso, a minha ocupação passou a ser transformar-me em quem em mim toca. Sou um fotógrafo (ladrão?) de almas e corpos - um espelho das cidades e campos por onde passei, das pessoas que aí habitam. A minha verdadeira imagem está guardada no fundo do baú no porão do meu navio; espera que alguém a procure... espera há já muito, mas ninguém ainda a buscou.

Embora voe mais do que ande, de terreno tenho o meu corpo, as minhas feridas e marcas; ao invés, a minha alma não é mais do que um corpo celeste. Há já muito que deixei de acreditar na supremacia de um sobre o outro - sei agora que são planos que raramente se completam; na maior parte das vezes, são paralelos, "correndo" um em simultâneo do outro, mas sem se afectarem; outras vezes, são planos perpendiculares, tocando num ponto único e irrepetível, como se de uma supernova se tornasse.

Assim, tive de tomar a decisão de deixar vencer um desses planos, deixar que ele mandasse na minha viagem. Embora todos me dissessem que deveria ser o terreno, o corpo celeste - a alma - ganhou, por agora. Arrisco muito, eu sei... mas não consegui (não quis) evitar... Até um dia...

R.

3 comentários:

polegar disse...

leaving so soon...? tenho pena. mas voa, até onde as asas te levarem. beijos e que encontres o teu farol.
e traz imagens bonitas.

angel_of _dust disse...

Thumbelina: Menina, não me vou embora. A escolha pelo corpo celeste tomei há algum tempo atrás - e, por estes dias, ando a pensar muito nessa opção.

Quanto ao «Até um dia...» (que, pelos vistos, te levou a pensar que fosse voar embora), refere-se a um dia poderá, finalmente (?), o físico ganhar - mas até lá, vou-me aguentando.

polegar disse...

ah, pronto, mais descansada :) fico contente que permitas aos teus dedos - físicos - ou às tuas asas descer à terra e deixar-nos aqui um pouco de ti. até ao próximo voo, então. beijo