1 de fevereiro de 2007

Sessenta. uma vida

Sessenta anos. Uma vida. Para mim, que ando por aqui há bem pouco tempo, sessenta anos são realmente uma vida. Uma vida de pessoas conhecidas, de uns que chegaram e tantos outros que partiram. De trabalhos muitos, de preocupações e deveres. De amores alguns. Sessenta anos de memórias.

Sessenta anos passados. Um pai e duas mães - acontecimento raro porque os amaste a todos por igual. Um irmão emprestado, mas nem por isso menos amado. Uma infância que só conheço pelas imagens em que se dá a mão pequena ao pai alto. Em que se mascara em tempo de Carnaval. Ontem como hoje. Uma adolescência de estudo. Mais de traços e números que de letras. E um final de juventude onde os interesses se viraram mais para o sul. Das planícies ensolarados chegaram os olhos verdes que prenderam. Até hoje. E, depois da conquista, o enlace. Em princípios de águas mil, uma nova história, ainda sem desfecho, se inicia. E etapa natural ou desejo de prolongar o nome, deitaste semente em terreno fértil. A unidade de uma vida junta a outra multiplicou-se em dois seres a florescer. Saber criar e, principalmente, saber amar. Dar bocados de si a quem ainda não tem memórias para guardar. Sorrir que preciso. Repreender quando necessário. Chorar umas poucas vezes quando inevitável. Educar, ensinar, proteger, ajudar - todas as palavras são conhecidas e oferecidas de coração aberto. A mão forte, mas amiga, leva os seus rebentos até eles já lá não caberem. Oferecê-los a quem os souber cuidar. Amar a quem chega de novo, como se de paixão antiga se tratasse. Repousar porque é tempo disso. Mas a mesma virtude e empenho. Nova vida para quem ainda tem muito para criar. E partilhar.

Sessenta anos para vir. Ou os que forem. Estar ao lado de quem ainda precisa tanto de um ombro amigo. Amar a quem pede amor e amparo. Nova etapa. Mais liberta, menos pesada, mas não menos saborosa. Redescobrir memórias e recriá-las a seu bel-prazer. Sair da pacatez do sofá e abraçar o mundo lá fora. Tanto ainda a chegar. Novas histórias ara contar aos que ainda virão.

Sessenta anos. Para mim, que cá estou há tão pouco tempo, estes sessenta anos são uma imagem do que quero para mim. E que melhor reflexo, que melhor exemplo, do que o de alguém que sempre esteve comigo quando precisei. Que sempre apareceu e acendeu a luz, bastando para isso chamar o seu nome - não aquele que lhe foi dado à nascença, mas o que me habituei a usar como signo de segurança: pai.

Sessenta anos. Que muitos se sigam. Parabéns pai.

R.

1 comentário:

Nuno Guronsan disse...

Ora então, os votos de um feliz aniversário ao anjo-mor. Conhecendo os rebentos aos quais deu origem, parece-me ser um anjo com muitos quilómetros já nas asas, mas concerteza com muitos mais ainda para dar.