26 de abril de 2007

Vem sentar-te aqui...

Hoje começa novo percurso. Hoje um trilho começa a ser desenhado na poeira dos meus dias. Uma história feitas de tantas outras - um passado espelhado no aqui e agora. O palco volta a ter as minhas cores, os meus sons, as minhas vozes (na boca de outros). Em breve a emoção de um será (espero) a convicção de outros. Em breve as imagens que me povoam a alma, esta alma companheira de há já muito, irão transpirar para uma caixa negra de sonhos e desejos. Em breve as incertezas de agora darão lugar a novas indecisões, os desejos terão um sabor de luz e som.

E no centro, as memórias de um país. Acho que quero sempre falar de memórias. Qualquer um de nós, anjo ou humano, não se atém numa aparência física, num conjunto de mecanismos orgânicos. Mais do que isso, somos biografia, somos história, somos o que já fizemos e o que ainda desejamos fazer. Todos somos lembrança, como somos sonho. E, por isso, estas memórias que quero agora "transpirar" para palco, são também sonhos. Sonhos ansiados, mas ainda por cumprir; que se esfumaram no tempo e na rotina. Trinta-e-três anos depois da mudança que muitos queriam, teremos desperdiçado a oportunidade? Será a memória do passado recente insuficiente para motivar quem (aparentemente) se contenta agora com tão pouco? Para quê a luta, mas desistir logo depois? Que representam as bandeiras e os slogans empoeirados que guardamos para, uma vez por ano, libertar à laia de lengalenga aprendida com os nossos avós?

«Cansamo-nos de tudo, excepto de compreender», dizia Pessoa. Quero compreender (ou, pelo menos, tentar) onde foi quebrado o elo que nos ligava a um espírito de querer e exigir mais dos outros - e de nós próprios. As lembranças do que foi para perceber quem podemos ser.

Daqui a uns meses, tudo estará mais claro(?). E lado-a-lado com quem me quiser acompanhar, perante quem me quiser ouvir, tentarei procurar a resposta - mais que obter, procurar. Público sentado. Luz off. E do palco, as primeiras palavras: chega-te a mim mais perto da lareira, vou-te contar a história verdadeira...

R.

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