21 de julho de 2008

(N)a poeira das noites

Há noites que valem por dias inteiros - por semanas inteiras. Momentos que deixam de ser únicos para se gravarem na nossa memória. Que se fotografam com a alma e se expoem em galerias que só nós visitamos. E onde, por vezes, deixamos uma ou outra pessoa entrar. Há noites especiais. Orvalhos que refrescam a alma. Uma fina película que lava os sentimentos, que lhes dá um brilho especial. Um brilho que não queremos limpar. E neblinas que transformam o exterior em interior. O de fora em dentro. Que enevoam o supérfluo, deixando a descoberto o verdadeiramente essencial - o toque, o suor, o arrepio, a suavidade da pele. Neblinas que escondem a cidade das luzes eternamente acesas, libertando os vales e montanhas onde ainda possível ouvir as corujas chamando por nós. Mas mesmo na neblina há luzes que se acendem na noite escura, para se apagarem logo de seguida. Como faróis, vão indicando o caminho a seguir. Como torres de vigilância, escondem histórias de amores secretos e de vidas em solidão. E há noites na penumbra - em que se arriscam fugas apenas iluminadas pela lua, que sempre foi companheira fiel de noites de insónia e ilusões desejadas. Noites de vozes que se ouvem ao longe. Vidas que continuam ao longe. Anseios, angústias, projectos - caminhos que se traçam em pensamento, esperando pela sua concretização logo que o sol nasça... e que, por vezes, não passam disso - de projectos por concretizar. Há cães ladrando ao desconhecido. Ecoando no silêncio. Como se de grilos se tratassem - os grilos das cidades que não dormem. Ladrando à lua, que também tomam por sua companheira. Quem sabe retornando às suas origens de vagabundagem. Às suas origens de conhecer o mundo pelo cheiro e pelo cansaço das viagens.

Há vidas e mundos que deixam poeiras nas noites. Há aventuras vividas que deixam imagens e palavras na memória. E que sangram para o papel. E ganham nova vida. E há sempre anjos, enrolados em mantas, olhando a cidade lá em baixo. E sonhando - e querendo - e voando.

R.

4 comentários:

c. disse...

...e há poeiras das noites que não queremos varrer, como odores que não queremos lavar ou sabores que não queremos perder :$




p.s.: amores secretos em torres de vigia?!? parece mentira...é melhor descansares até a neblina levantar ;)

M disse...

e há poeiras das noites q queremos q durem até se tornarem em poeiras dos dias

bj meu

Raquel Branco (Putty Cat) disse...

hei! Remember me? :)

Só para te dizer que... ADOREI!!!!

bjo

pcat

angel_of _dust disse...

(de volta da ilha verde)

c: há sabores e odores que ficam... mesmo passado algum tempo. há sabores e odores que são cicatrizes auto-infligidas, marcas de grandes aventuras...

monikyta: há poeiras na noite que de manhã são neblina - são estórias para guardar e (talvez) contar. mas existem outras que queremos que fiquem guardadas na sombra da noite - mas sempre com a promessa de retornar.

putty: claro que lembro. tenho sido teu "espectador" silencioso. falo pouco mas leio muito. obrigado ;)