8 de janeiro de 2009

Seguir em frente(?)

Não sei se é o apelo da mudança. A constante urgência em mudar. Em não me deixar estar. Em ser diferente. Dos outros. Do que fui. Em busca do que sou. Do que posso ser. Não sei. Talvez. Mas o certo é que sempre que começo algo novo - sempre que me proponho ultrapassar novos obstáculos - fica um universo de ideias, de estratégias, para trás. Perdidas na poeira dos dias e das noites. Sempre que um novo objectivo se constrói, outros, igualmente importantes, são esquecidos. Ou pelos menos arrumados a um canto, à espera de melhores dias. Em que novamente veja neles alguma utilidade. Há já muito que me habituei a reconhecer em mim esta urgência de experimentar coisas novas. De arriscar trilhos desconhecidos. Mas o certo é que nesta jornada em constante mutação, muito foi ficando. Muitos projectos que agarrei com unhas e dentes estão agora abandonados. São memória passiva de um indivíduo que já não é o mesmo. E esta vontade de tentar a novidade foi criando em mim também alguma amargura. Do tempo que perdi a inventar e construir. Para agora esquecer - ou tentar esquecer. E seguir em frente.

Sempre que o resultado não me agrada - sempre que o final da estória, ou o meio, ou nem isso, não está à altura das expectativas criadas - recomeço tudo de novo. Apago tudo e novamente a caneta inventa novas palavras. E assim páginas e páginas de vidas foram-se amontoando à minha frente. E dos lados. Envolvendo-me até eu e elas sermos (quase) um só. E nenhuma dessas vidas e estórias chegaram a um verdadeiro fim. Foram abruptamente interrompidas - no momento em que percebi que nunca poderiam ser o que eu imaginara. Esta floresta de palavras e tinta, de riscos e correcções, é o meu jardim no meio da cidade. Só que não tem pássaros a chilrear nas manhãs. Não tem sombras a proteger no Verão. E os frutos que estas árvores me dão não alimentam nem refrescam. Não confortam o estômago e muito menos a alma.

Tento perceber este impulso constante de recomeçar. De rapidamente me desiludir com os resultados intermédios. Que me impede de ver o fim nunca alcançado. De o aceitar. Com ou mau. Ou nem por isso. Tento entender o porquê de perder a motivação aos primeiros reveses. Ou de prosseguir, mas já desconfiado e descrente do sucesso. Tenho de descobrir a razão dos meus projectos serem inevitavelmente falíveis. De todas as planificações serem insuficientes para levar o meu barco a porto seguro. De este espectáculo ser acima de tudo um monólogo chato e que poucos querem ver até ao baixar do pano. E sem a certeza dos aplausos.

A única razão que encontro está em mim. Não duvido da qualidade do guião e das anotações. Dos adereços e da banda sonora. Cada objecto, cada música. Tudo parece encaixar apropriadamente em cada situação. Alguns dos cenários não destoariam em produções de alto gabarito. Mas eu, este anjo caído que decidiu(?) assumir a encenação e interpretação de uma epopeia vivida a um, tenho pouca fé nas minhas capacidades. E, por mais que não queira, começo agora a perceber que não passo de um cabotino. Que não não decoro bem as deixas. Que, por vezes, chego mesmo a esquecer-me do texto. Ou meto "buchas", tento esconder as minhas inseguranças. Falho as marcações no palco, como se nunca sequer as tivesse ensaiado. E desejoso de não ser vaiado pelo público que ainda resiste na sala, decido sempre interromper o espectáculo a meio, procurando o conforto do anonimato nos bastidores. Saio pela porta dos fundos, evitando os comentários dos espectadores. Talvez como defesa das críticas destrutivas. Mas que também me impede de ouvir os elogios - se os houver. Perco-me na cidade que nunca dorme. Quem sabe esperando adormecer com a rotina as ânsias que defendo, mas que não consigo ter coragem de concretizar.

R.

2 comentários:

c. disse...

...será este um anjo com medo das alturas? cujas vertigens o impedem de permanecer acima das nuvens? que perante a insegurança procura desculpas para voltar a terra firme?



ensinaram-me que esses projectos abandonados, que ficam pelo caminho, são como penas que embelezam as nossas asas. podem não se ver, parecer insignificantes perante os outros, mas sem elas não teríamos chegado até aqui, nem ousaríamos voar mais alto…

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M disse...

baralhaste-me....

talvez seja mm necessário deixar de fazer algumas coisas para poder fazer outras...senão é uma bagagem (fardo) mt gd andar sempre com (tamanha) casa às costas...

dá o melhor de ti em cada uma delas, n as compares, vive-as intensamente...

bj meu