12 de março de 2010

Desabafo depois do susto

para a M. - obrigado por teres estado lá

Aqui estou novamente. Depois de andar desaparecido - e de me sentir ainda muito desaparecido. Desculpa esta ausência. Como já te tinha dito, às vezes sentimos a ausência quando menos a esperamos. E somos surpreendidos pelo inesperado. Neste caso, pelo inesperado do corpo.

O meu corpo falhou. E, de repente, voltei a sentir-me mortal. Indefeso. Na madrugada do passado domingo, o meu corpo falhou. De volta de uma noite de convívio, ele falhou. De repente, ao deitar-me, senti tudo a desaparecer. As minhas entranhas rebelaram-se. No espaço de poucos minutos, deixei de controlar tudo. As mãos, as pernas, o corpo. Fiquei paralisado. Literalmente paralisado. E enquanto tudo e todos viam este anjo a ficar rígido, contraído, eu comecei a sufocar, a deixar de respirar. O coração quase a rebentar, os pulmões a deixarem de funcionar. Veio uma médica-anja amiga. E veio um bombeiro amigo. Para poder pegar no meu corpo agora já demasiado pesado. E finalmente, quando ninguém sabia o que pode ser feito, vem a ambulância. E eu a desaparecer.

Mas todos os sinais estão bem. É o que dizem a quem está ao meu lado. E que eu oiço. Sim, quase como se corpo e mente se tivessem separado. Não controlo o meu corpo - mas oiço tudo o que dizem. E a hora - e a hora e meia - o tempo passa. A ambulância não me leva. Porquê, não sei... E assim fico. Até adormecer. Ou desmaiar.

Acordo tempo depois, já refeito. Mas o corpo e a alma cansados deste esforço que não pedi. E que chegou sem ser anunciado. E deixou marcas. Ando cansado. E assustado. Em baixo de forma. E ficou a incerteza do que aconteceu... preciso de saber. E amanhã faço análises. Depois, farei exames. Eu, o anjo que se arrepia com agulhas e seringas, com o éter e os hospitais, perdeu de repente o medo. Disso. Porque um outro medo se sobrepôs.

Por isso, aqui está a razão da minha ausência. Porque me mexo mal. Porque ainda estou mal. As forças vão voltando. Mas a minha sombra continua bem maior que o meu corpo. Fico cansado rapidamente. E perco muitas vezes a memória imediata. Do que me disseram há poucos minutos. Mas, dia após dia, o meu sorriso recomeça a rasgar-se.

Mas voltarei. Prometo.

Até já,

R.

4 comentários:

bulletproof disse...

O que põe a palavra "pânico" nos ataques de pânico, para além da sua total imprevisibilidade, é não terem uma razão fisiológica concreta. Nem um gatilho psicológico aparente, for that matter.
Apesar de ser impossível prever, controlar ou mesmo lidar, ajuda saber que não se morre disso.
Um grande beijinho e força aí.

M disse...

hum...cá estarei à espera dos resultados "fisiológicos"...qd souberes diz.

bj

e continuação de boas e rápidas melhoras :)

Anónimo disse...

Meu Anjo lindo.
Essas tuas asas de sangue, essa tua inquietude, essa tua procura da perfeição, fazem de ti um ser muito especial e precioso.
Partilha as tuas angustias e medos com todos os que te amam para que possas ser feliz e eterno.
Bjs
TC

Sensi disse...

Passo sempre silenciosamente mas
hoje não o poderia fazer.

"Tenho-te" como um anjo de asas bem elevadas e abertas como quem está sempre pronto para abraçar e proteger. Não "te tenho" como um anjo de asas caídas. E por isso, quero acreditar que em breve voltarás mais forte ainda.

Votos de rápidas melhoras.
Abraço,

SENSI