6 de janeiro de 2012

Retomar(?)

para ti. por teres estado aqui...

Olhar para trás e tentar (retomar) uma linha que ficou em pausa. Talvez esquecida. Ou demasiado presente, mas sem espaço para se impôr. Nos últimos traços e jornadas fui perdendo algumas pequenas (grandes) conquistas. Países que descobri - mas que agora pareço visitar raramente. Talvez mesmo já não saiba a cor da sua porta - ou a luz que irradia por entre os cortinados que vão ornando o casario que me encheu a alma. Sim, é fácil querer pôr o corpo a caminho. Mais ainda quando se traz o entusiasmo da descoberta e a força das palavras. Das palavras que tornam tudo mais belo... o que sentimos - queremos - alcançamos... mas também aquilo que intimamente sabemos nunca estar ao alcance dos dedos. Se a dança dos sons e das metáforas não me tivesse prendido definitivamente, talvez tudo pudesse ser resumido num: "falar é fácil - ser e arriscar é algo bem diferente". Mas não quero - sabe-se lá porquê - deixar que a banalidade seja outra derrota a juntar ao rol recente de não-vitórias. E, por isso, é na cegarrega do dizer-por-outras-palavras que vou vogando. Até para (me) queixar devo nunca esquecer o que me prende aqui. O que pulsa dentro de mim. E que é, afirmo, bonito.

Pouco a pouco, fui deixando embalar-me por equívocos. Por caminhos que não fui eu que defini. Ou que desenhei, mas sem as asas a ampararem-me a decisão. Deixei-te, meu anjo de asas azuis, por relógios e transportes públicos e crises de demagogia e pouco saber. Mas, se posso tentar ter defesa, tenho de te confessar que não notei. Não foi propositada a distância que foi sendo cavada entre nós. Uma noite dormia a teu lado (mesmo que apenas em sonhos) - e num dia de sol escondido descobri que há muito que não sinto o teu calor a chamar pelo meu. E o tempo tinha-se escoado sem deixar marcas. E o que era bem presente em mim - nós - é, neste momento, uma lembrança que tem pó e saudade. Sim, fui deixando que o grande equívoco me traísse a vontade e a ilusão: o equívoco de que, uma vez agarrado, o sonho nunca foge. Não, ele tem de ser regado sempre - amado - mordido - amassado e sentido com o corpo e a alma. Mas, acima de tudo, o sonho da praia deserta e do orvalho tem de ser colado às rotundas dos dias chuvosos. Não há ilusão que resista ao sono e cansaço das noites mal dormidas.

Terei perdido o mapa do teu país? E onde se quebrou a linha invisível que parecia feita de aço e à prova de rotinas e regras? Não sei... E se tu o sabes - se calhar, passou já o tempo exacto para partilhares comigo. Agora, serei (talvez) mais uma fotografia na tua estória. Talvez mesmo numa página que já colou a tantas outras por falta de visita. E a culpa é minha - sei isso bem (demais). Porque nunca o amor dos olhos verdes de um anjo pode combater sozinho o desmazelo do cabelo preto despenteado de um homem. Mas nunca fui muito bom a pedir ou exigir ajuda. Criei o hábito de voar solitariamente pelos céus da cidade que nunca dorme. E quando te deixei entrar, quase sofregamente como quem rouba um tesouro, não soube acautelar-me(-te)(-nos) para as paragens, os descansos na viagem - os momentos necessários de pausa. De desligar o sonho e aguentar a rotina. Por não preparar o terreno, não delineei como ser um anjo que partilha. Tive-te em mim - guardada. Mas deixei-te sozinha cá dentro - enquando fui outro, menos interessante. E, inevitavelmente, acabaste por querer sair. Deixando a porta aberta. E criando-me a ilusão de ainda aqui estares. 

Talvez o mapa perdido seja o meu. É isso. Como retomar a ti... quando não sei onde estou e para onde devo dirigir o meu vôo? Como te posso chamar de novo - arriscando que já não saibas a minha voz - se me desabituei a falar a nossa língua? A língua daqueles que sabem haver um universo-cá-de-dentro que se impõe, nem que seja por momentos, ao mundo-lá-de-fora. Estou destreinado - como há muito não estava. Deixei-me enredar num plano que tinha prometido resistir. Cavou-se um fosso entre o aqui e o . Uma distância sem medida - desconhecida. E as minhas forças voltam a estar fracas. Por ter sido apanhado sem cautelas neste dia-a-dia que não domino. E onde tu não estás. Olhar para trás e tentar (retomar) uma linha que ficou em pausa. Talvez esquecida. Ou demasiado presente, mas sem espaço para se impôr...

... Preciso de me redesenhar. Como se ainda aqui estivesses.

R.

1 comentário:

Anónimo disse...

Uma pequena prendinha espera por ti, aqui: http://espelhodaspalavras.wordpress.com/