16 de março de 2013

Parabéns(-te)

Sentir-te perto... mesmo que não aqui ao lado. Saber que, desse lado, existe o sorriso que me encantou, o olhar que me prendeu. Saber tudo isso - e ter-te aqui para mim, nem que seja apenas no momento em que escreves e e eu leio. No dia em que os (meus) 35 fins-de-inverno chegam. Data estranha. Lembro-me de, em tom de piada, muitas vezes ter dito que decidira adiar a tão famosa crise dos 30 para os 35 - nem que fosse apenas para ser diferente. E eis-me agora lá - nesses 35 publicitados anos.

Na verdade, os últimos tempos não têm sido fáceis. Porque, sabemos bem, a nossa ilha nem sempre aguenta os vendavais inesperados - ou as brisas rotineiras, mas que mesmo assim nos despenteiam o caminho. E tenho pensado muito naquele caminho que trilhei contigo. E como me pareceu certo. E como, agora, me parece ainda mais certo. Porque o trilhámos de corpo e alma abertos. Partindo de palavras, chegámos ao cume da montanha e lá pernoitámos. Partindo de ilusões, perdemo-nos na beira-mar e sentimos o orvalho e a chuva a abençoar a nossa aventura. E, acima de tudo, tudo o que falámos e desenhámos dentro de nós foi corpo e partilha e desejo e vontade. Nunca as palavras fizeram mais sentido que naqueles momentos. Porque soubemos que não havia mundo para além de nós.

Poderá um mundo de ilusões ser chão e casa? Não sei... nunca o soube - agora, ainda menos. Quis sempre inventar teorias para as minhas vontades. Consegui sempre escondê-las dos olhares e ouvidos alheios. E assim, chegar a ti sem que mais ninguém percebesse. Sei agora que o fiz mesmo antes de te encontrar no cais da minha emoção. Bom... parece impossível. Eu próprio o afirmaria se não fosse o acaso(?) de embater violentamente em ti numa qualquer curva do destino. E não mais sair daí. ver os carros passarem - as rotinas se alterarem e acomodarem. E eu aí - aqui - onde estás. O meu quase incontrolável ímpeto de despejar palavras onde, muitas vezes, existem ausências e incómodos levou-me a este impasse. De um lado, a vontade de descobrir onde me pode levar a estrada de tijolos amarelos. Do outro, um horrendo auto-controlo que não poucas vezes apenas serve para atrapalhar - impedindo-me de ser um ou o outro.

Jogo os dados ao ar, e todos os resultados me parecem certos: ficar ou partir. Qualquer das máscaras imaginárias que envergo me servem na perfeição. A máscara de alguém que alcançou uma quietude que lhe permite, finalmente, descansar. Depois de muito procurar e investir, é certo que agrada repousar as asas e deixar o vento levar a vida para onde desejar. Mas também há a máscara de sombra. A que me diz que, se existe um caminho de ilusão desenhado (in)conscientemente na penumbra da noite, porque hei-de eu virar-lhe as costas? Onde as asas vermelhas que tenho escondidas debaixo da camisola de soldado se poderão abrir e levantar vôo. Levar-te onde ainda não fomos... e saber o que se esconde por detrás das palavras que usamos neste jogo do toca-e-foge.

E é assim, nesta noite de fim de aniversário, que me deixo mais uma vez enlear nas (minhas-tuas) palavras. Hoje, sou eu o aniversariante... mas tu és a homenageada. Porque aqui chegaste - e teimas em não querer partir.


Parabéns,
R.

2 comentários:

c. disse...

(ainda) parabéns. por continuares a cultivar esta ilha. por manteres acesa a chama que serviu de guia para aqui chegar(mos). por conseguires guardar aqui os mais belos segredos. e por nestas palavras tornares vividas as memórias. aquelas que (nenhum) tempo apaga. nem o passar dos anos lá fora, nem a chuva que insiste em cair e regar este espaço. sempre fértil. sempre cheio de vida. sempre ansioso por mais. ainda que muitas vezes esquecido pelas rotinas do outro mundo. é bom recordar as emoções deixadas ao vento. é bom redesenhar sorrisos. é bom (fazer-te) voltar :)

SENSI disse...

Embora atrasados... Muitos parabéns!

Em jeito de "presente" deixo-te este poema que sempre que leio me faz lembrar deste teu espaço.

“Há pessoas que não acreditam em ilhas.
Acham que as ilhas são coisas inventadas, em que só se acredita quando se é criança. Por isso,
chega um dia em que julgam que já não são crianças e deixam de acreditar em ilhas.
Outras pessoas pensam que uma ilha é uma terra rodeada de mar e de névoa por todos os lados.
Todavia, no meio da névoa, dentro da ilha, está-se em muitas mais coisas do que numa terra,
pode até estar-se num sítio desconhecido dentro de nós."

Que nunca deixes de acreditar em ilhas.

SENSI