E se um dia o nosso amor acabar? Se um dia, todas as juras que fizemos e prometemos um ao outro deixarem de ser juras para serem apenas recordações de algo que já não é mais?
Nos filmes, todos os amores duram para a eternidade; se vemos separações é apenas porque o verdadeiro amor espera na próxima "esquina". Nos filmes, tudo é sempre claro como a água. Mas na nossa vida fora-do-écran cada relação é encarada como a definitiva - a mais pulsante - a mais verdadeira. Queremos sempre apostar tudo num amor que nos preencha e complete, que nos faça crer na felicidade imaculada. As divergências com o outro são transformadas em "sal da relação". As semelhanças são vistas como provas inequívocas de um destino para ser cumprido.
Mas, e quando esse "sal" se transforma em incompatibilidade, quando essas semelhanças passam a meras coincidências? Que acontece quando percebemos que, afinal, não vai ser para sempre - que o prazo de validade já se esgotou e que de agora em diante tudo ficará azedo? Olhamos para o espelho e a pergunta surge: - Onde se perdeu o brilho que os meus olhos tinham quando o seu nome surgia? Quando o prazer do toque passou a algo incómodo e dispensável? A resposta nem sempre é fácil. Nem sempre os amores terminam em traição - e nem sempre gostar é suficiente. E no lugar daquele brilho aparece um vazio imenso, uma sensação de abandono. Habituámo-nos a algo que agora vemos fugir, sem querer (ou querendo, mas sofrendo na mesma - ou mais...).
E parece que, com o avançar dos anos, tudo se torna bem mais difícil de suportar. Quando éramos simples adolescentes, os fatalismos das paixões desencontradas eram encarados como sinal da idade - sempre nos ensinaram que «com o amadurecimento isso passa». Mas a verdade é que, nessa altura, noções como a solidão, o vazio de uma relação terminada, a dúvida do caminho após, nos pareciam vagas e pouco perceptíveis. Agora tudo nos parece duro demais para suportar. Talvez agora, à medida que passamos de rapazes e raparigas para homens e mulheres, percebamos que realmente podemos acabar sozinhos - que realmente não existem almas gémeas, e que não vamos encontrar o amor nessa tal esquina repetida vezes sem conta em todos esses filmes.
Com a idade também aprendemos que não basta querer estar com outra pessoa - é preciso também (e principalmente) conseguir estar com o outro. Por mais paixão, prazer, volúpia, desejo ou carinho que sintamos, é possível sermos incompatíveis. Gostaríamos de definir amor como algo que não se prende com o dia-a-dia, com horários e gostos "terrenos". Para nós, o amor deve ser um encontro de almas - mas a verdade, é que esse amor nunca poderá fazer face a projectos de vida diferentes, a formas de estar diferentes... O amor não é tudo... infelizmente. Posso gostar muito de ti, mas perceber que nunca isto poderá ser para sempre; que vai haver um dia em que vamos compreender (se não o compreendemos já) que os nossos futuros não são conciliáveis. E isso dói. Não sei se por ter pena de acabar algo a que me habituei a apelidar de meu, pelo qual fiz tanto e senti tanto. Não sei se por perceber que não consigo alterar a minha forma de ser por outra pessoa - e deveria?
E se hoje for o dia para nós dizermos adeus? E se hoje preferir sofrer para não sofrer mais depois? E, no entanto, dizer FIM não é suficiente para acalmar toda a mágoa de perceber que me enganei - que nos enganámos. Sei que entro agora num período de negro luto; até quando, não sei... Negro por mim, negro por ti (porque ainda gosto, mesmo que de forma diferente), negro pelo vazio que se apoderou do meu corpo. A solidão que, por vezes, me agrada (estar só comigo, em perfeita comunhão, sempre foi um dos meus refúgios), é agora sufocante. As lágrimas por este amor terminado sabem mal e deixam cicatrizes que levarão tempo a desaparecer. Ahh, como me apetecia ter de novo quinze anos, e achar que a paixão é sempre algo passageiro.
Já não estamos juntos, mas sinto que ainda preciso de ti - mas agora já não consigo continuar... simplesmente a fonte secou. Desculpa, falhámos.
R.
Nos filmes, todos os amores duram para a eternidade; se vemos separações é apenas porque o verdadeiro amor espera na próxima "esquina". Nos filmes, tudo é sempre claro como a água. Mas na nossa vida fora-do-écran cada relação é encarada como a definitiva - a mais pulsante - a mais verdadeira. Queremos sempre apostar tudo num amor que nos preencha e complete, que nos faça crer na felicidade imaculada. As divergências com o outro são transformadas em "sal da relação". As semelhanças são vistas como provas inequívocas de um destino para ser cumprido.
Mas, e quando esse "sal" se transforma em incompatibilidade, quando essas semelhanças passam a meras coincidências? Que acontece quando percebemos que, afinal, não vai ser para sempre - que o prazo de validade já se esgotou e que de agora em diante tudo ficará azedo? Olhamos para o espelho e a pergunta surge: - Onde se perdeu o brilho que os meus olhos tinham quando o seu nome surgia? Quando o prazer do toque passou a algo incómodo e dispensável? A resposta nem sempre é fácil. Nem sempre os amores terminam em traição - e nem sempre gostar é suficiente. E no lugar daquele brilho aparece um vazio imenso, uma sensação de abandono. Habituámo-nos a algo que agora vemos fugir, sem querer (ou querendo, mas sofrendo na mesma - ou mais...).
E parece que, com o avançar dos anos, tudo se torna bem mais difícil de suportar. Quando éramos simples adolescentes, os fatalismos das paixões desencontradas eram encarados como sinal da idade - sempre nos ensinaram que «com o amadurecimento isso passa». Mas a verdade é que, nessa altura, noções como a solidão, o vazio de uma relação terminada, a dúvida do caminho após, nos pareciam vagas e pouco perceptíveis. Agora tudo nos parece duro demais para suportar. Talvez agora, à medida que passamos de rapazes e raparigas para homens e mulheres, percebamos que realmente podemos acabar sozinhos - que realmente não existem almas gémeas, e que não vamos encontrar o amor nessa tal esquina repetida vezes sem conta em todos esses filmes.
Com a idade também aprendemos que não basta querer estar com outra pessoa - é preciso também (e principalmente) conseguir estar com o outro. Por mais paixão, prazer, volúpia, desejo ou carinho que sintamos, é possível sermos incompatíveis. Gostaríamos de definir amor como algo que não se prende com o dia-a-dia, com horários e gostos "terrenos". Para nós, o amor deve ser um encontro de almas - mas a verdade, é que esse amor nunca poderá fazer face a projectos de vida diferentes, a formas de estar diferentes... O amor não é tudo... infelizmente. Posso gostar muito de ti, mas perceber que nunca isto poderá ser para sempre; que vai haver um dia em que vamos compreender (se não o compreendemos já) que os nossos futuros não são conciliáveis. E isso dói. Não sei se por ter pena de acabar algo a que me habituei a apelidar de meu, pelo qual fiz tanto e senti tanto. Não sei se por perceber que não consigo alterar a minha forma de ser por outra pessoa - e deveria?
E se hoje for o dia para nós dizermos adeus? E se hoje preferir sofrer para não sofrer mais depois? E, no entanto, dizer FIM não é suficiente para acalmar toda a mágoa de perceber que me enganei - que nos enganámos. Sei que entro agora num período de negro luto; até quando, não sei... Negro por mim, negro por ti (porque ainda gosto, mesmo que de forma diferente), negro pelo vazio que se apoderou do meu corpo. A solidão que, por vezes, me agrada (estar só comigo, em perfeita comunhão, sempre foi um dos meus refúgios), é agora sufocante. As lágrimas por este amor terminado sabem mal e deixam cicatrizes que levarão tempo a desaparecer. Ahh, como me apetecia ter de novo quinze anos, e achar que a paixão é sempre algo passageiro.
Já não estamos juntos, mas sinto que ainda preciso de ti - mas agora já não consigo continuar... simplesmente a fonte secou. Desculpa, falhámos.
R.
5 comentários:
quando o amor acaba, vêm as feridas e o sal. mas uma sensação estranha de calma, de consciência. e um crescimento. digo sempre que cada dia dói um pouco menos. há que viver esse luto com a intensidade com que se viveu o amor. depois... depois... respirar fundo... dobrar as esquinas e ver o que a vida, o acaso, o destino ou as pedras da calçada trarão...
...ou por onde começar uma estória :)
... estamos sempre a re-desenhar mapas. umas vezes para descobrirmos novos mundos - outras vezes, para não esquecermos de onde queremos retornar. porque nos deixámos estar lá em espírito... mesmo que o corpo tivesse viajado.
sim, estamos sempre a recordar viagens, observando mapas antigos, recordando rotas traçadas no passado, questionando o eterno e se como quem tenta revelar fotos antigas, na esperança de lhe reconhecer as cores...
mas sabes - os mapas estão lá, mas apenas em esquisso... teremos de ser sempre nós a colocar as cores que melhor nos servem. seja para reavivar as memórias, ou torná-las mais ténues e fáceis de esquecer... ou pintar de cores vivas, por sabermos que ainda há que retornar a essas terras outrora familiares.
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