para a C.
Onde se vão buscar as forças para reconstruir tudo e voltar a voar? Como refazer um puzzle do qual perdemos as instruções? O fim de um amor é sempre um corte abrupto numa linha que desfiamos continuamente. Desde que nascemos procuramos alguém que nos ampare, que nos ouça, que sirva de reflexo e resposta para os nossos anseios.
Mas quando essa "linha" se parte, descobrimos então não estar preparados para recomeçar o jogo, para partir em busca de um novo amor. O fim de um amor é vazio, é a ausência de bases onde sustentarmos as nossas emoções, mesmo as nossas rotinas. É como uma pequena-morte [curioso, em alguma literatura é chamada "pequena-morte" ao orgasmo, pela sua descarga de energia, e sensação de abandono após. curioso como o prazer e a dor são tão próximos]. E essa morte, como qualquer outra, exige um luto. Devemos aguentar a dor, depois a mágoa, finalmente a lembrança dorida de algo que terminou. Devemos esperar que as feridas que agora sangram abundantemente passem a cicatrizes que marcam a pele - memórias que iremos guardar na nossa caixa dos sonhos e lembranças.
E um dia, percebemos que a nossa alma está novamente aberta, pronta para albergar novo amor. Quase sempre só o notamos quando esse novo amor está já a se impôr no coração. E então, novamente, temos amor nos pulmões, nos pés e nas mãos, na boca e no sexo... temos paixão e desejo na alma. Novamente amamos. E esperamos que, desta vez, seja para sempre...
Por isso, como vês, só te consigo ajudar partilhando as minhas dúvidas. Aliás, acho que é a única forma de realmente se ajudar alguém - fazendo-a ver que não está só nas suas angústias. A cidade que nunca dorme está cheia de esquinas, e numa dela poderá (re)aparecer o amor... basta que não feches os olhos.
Para me despedir, deixo-te com uma frase que uma vez me foi dita (quando me "quebraram a linha"): The end of one love is always the opportunity of finding a new one. Se ao menos fosse assim tão fácil...
Não te percas e volta sempre,
R.
11 comentários:
Mensagem ABSOLUTAMENTE fantástica!!
Nada a "acrescentar".
Angel, deixo-te o rasto do meu beijo.
espero q a C aproveite estas "instruções"...
aqui a M, vai aproveitar...
obrigada
bj meu
putty: beijo agarrado, e preso com fio de nylon às minhas asas (assim fica amis seguro). até já.
monikyta: quem sou eu para dar "instruções" - o amor e a vida são feitas de memórias e de cicatrizes. marcam a pele, mas também são mapa de nós próprios. somos, em grande medida, uma enciclopédia de eventos e lembranças. sem isso, não existe diferença que nos torne especiais.
Angel...há alturas em que tudo gela realmente à nossa volta e nos enchemos com um MEDO que não nos permite avançar, congelando qualquer réstia de lucidez. Confesso que não sinto as forças necessárias para lá chegar, ao futuro, mas sei que eventualmente ele vem, subtilmente, a cada dia.
Espero ser capaz de incorporar as tuas palavras e de aprender alguma coisa com elas...mais uma vez obrigada por partilhares a forma como tens construído o teu mapa.
C.
bug: amiga C, a lucidez ou a aparência dele serve-nos apenas para iludir quem nos olhe de fora... o MEDO suplanta muitas vezes a nossa consciência de que um dia melhor irá chegar. assim mesmo, mantemo-nos "somente" à tona de água, esbracejando para não nos afogarmos. os coletes de salvação são laranjas e só chegam em época balnear. e os nossos braços, mesmo cansados, não param de se mexer - só com eles podemos contar.
Não incorpores as minhas palavras - usa-las como um desabafo que te faço - a minha igual incapacidade para achar uma resposta satisfatória. no fim de contas, a única coisa que podemos fazer é tentar... e tentar sempre e novamente.
Não posso dizer nada mais do que:
Absolutamente de Acordo!
Verdadeira mensagem,
De vida,
De Amor (porque não?),
De verdadeiro e profundo Carinho!
Abraço.
Li e chorei.
O meu namoro acabou na 2ª feira que passou.. Dói e choro. Não te consigo dizer mais nada. Mas este post conseguiu dizer-me muito. Obrigada. Beijinho.
brain: sim, creio que pode ser entendida comom uma mensagem de carinho... nem que seja uma mensagem de "lamber as nossas próprias feridas".
chaninha: não sei que te diga - saber que algo que penso e escrevo pode tocar alguém que só agora começo a conhecer é sem dúvida uma benção... espero que te ajudem as minhas palavras. volta sempre.
O segredo é deixar o tempo passar, apagar o medo aos poucos, deixar a "vida" fazer o seu trabalho... e nos entretantos conhecermo-nos melhor.
Encontrei este teu post por entre os milhões de posts que enchem esta blogosfera. Parece escrito por mim, mas de forma mais elegante. Estou na fase da lembrança dorida...e dói-me ainda mais saber que já se passaram quase 5 meses e ainda sinto dor. Existe um prazo de validade para a dor?
será que existe um prazo de validade para a dor? para sentirmos que a perda é agora uma memória menos simpática - mas já não um punhal que nos dilacera o coração? em que já colocámos o adeus como palavra do passado? em que não acordamos a repetir o mesmo adeus vezes sem conta?
será que a dor só desaparece, só se transforma em recordação, quando um novo amor aparece? será que somos assim tão dependentes de afectos? de carinhos no corpo e na alma?
a verdade é que respostas tenho poucas para as inúmeras perguntas que me coloco. sei apenas que, por mais que digamos o contrário, iremos sempre correr sem defesas para um novo amor. mesmo aqueles em que o fim é desde logo adivinhado. em que sabemos que não irá durar... se calhar guardamos a secreta esperança de que desta vez será diferente. que hoje irá ter um resultado positivo. e que este hoje perdurará até... bem, até a um dia longínquo que agora não concebemos.
a dor tem a validade da nossa emoção. nunca poderemos afastar a angústia de um coração que está aberto aos outros. se queremo-nos dar a outra pessoa - seja ela quem for - teremos de estar preparados para a dor. para a inevitabilidade da perda. para essa possibilidade. não que isso nos afaste da busca pela "alma gémea". ou, pelo menos, da busca por alguém que nos entenda. a quem não precisemos de falar para transparecer tudo o que temos cá dentro. da busca por aquela pessoa por quem estejamos dispostos a sofrer.
até já,
R.
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