14 de maio de 2008

Deixa-me...

para quem tem um sorriso... e não tem medo de o usar

Deixa-me contar as tuas sardas. Saber quantas são. Conhecê-las de cor. Uma a uma. Perceber os caminhos que posso traçar entre elas. Onde me posso perder. Para logo me achar. Para logo me poderes encontrar. Entrar pelo castanho dos teus olhos. Que às vezes são verdes. Quando sorris para mim. Quando me deixas entrar nesse mundo em que habitas. Onde a anjinha se veste de diaba. Mas que não me convence. Sim, não me convences como maléfica. Para mim és e serás sempre a menina doce. Que é pequenina, mas que se faz de grande. Que tem um sorriso de criança maravilhada com o mundo, mas que se protege num cabelo de mulher.

Deixa-me tocar as tuas sardas. Sentir que são reais. Que não são estrelas na noite de insónias. Deixa-me aprender-lhes o lugar. Saber quantas são - e onde ficam. Se mudam lugar conforme o teu humor. Se, quando coras, elas também coram. Se quando estás triste elas se vestem de negro. Se brilham quando estás feliz. Para mim, estão sempre a brilhar. Mesmo que estejas triste. Para mim, as tuas sardas são um farol - indicando o caminho para um porto seguro. Ou são sereias, chamando-me com o seu canto. Deixa-me sentir o calor das tuas sardas. Será que elas me deixam aproximar? Será que tu me deixas aproximar?

Deixa-me aprender o caminho das sardas até ao teu sorriso. Um sorriso que prende. E embriaga. Um sorriso a que não consigo - não quero fugir. Um pequenino sorriso que me enche o olhar. E a alma. Lábios vermelhos. De um vermelho cheio de vida. De uma vida que sorri. Para mim. Deixa-me guardar esse sorriso no meu pensamento. Para o relembrar em noites de solidão. Como uma vela que se acende numa sala vazia. Uma vela que enche e aquece as noites de frio.Deixa-me roubar esses lábios. Deixas? Prometo que os devolvo - ou não... Mas, pelo menos, prometo que tratarei bem dos lábios. E do sorriso que formam. Como se de um tesouro se tratasse.

Deixa-me olhar para ti. Fotografar as tuas sardas, os teus olhos castanhos mas por vezes verdes, o teu sorriso que prende, tudo... deixa-me estar aí, ao pé de ti. Deixa-me mostrar-te as minhas asas vermelhas, os meus olhos verdes sempre verdes, os meus cabelos negros. Deixa-me contar-te a viagem que me trouxe até ti. E ouvir de ti as viagens que já fizeste. E inventarmos juntos novos caminhos. Novas viagens. Deixa-me desenhar sardas na minha cara - a caneta de feltro. E depois borrá-las. Confundir as minhas novas sardas com as tuas. Até deixarmos de as distinguir. Confundir os meus olhos sempre verdes com os teus. Ficarem de um verde mais intenso. Com laivos de castanho. Criar uma ilusão. Para cumprir. Ou, pelo menos, sonhar. Deixa-me voar até ti... Não saias daí. Estou a chegar.

R.

1 comentário:

A disse...

"E inventarmos juntos novos caminhos. Novas viagens."a dois o caminho torna-se sempre senão mais fácil, pelo menos mais encarável.
"Criar uma ilusão. Para cumprir. Ou, pelo menos, sonhar. Deixa-me voar até ti..." continua sempre a sonhar, é a única verdadeira posse que temos de nossa os sonhos, aqueles que perseguimos para os cumprir, mesmo que no fim cheguemos á conclusão que era apenas um sonho que não estava escrito para ser cumprido. Mas até lá, sonha! Sonhar faz tão bem...e os teus textos fazem sonhar.
Beijinho