23 de agosto de 2018

Hoje ouve o bater do coração.

Cala-te. Falas muito - dizes adorar os silêncios, mas as palavras sempre encontram em ti terreno fértil para florescerem. Pára e respira - não peças urgência à pressa e corrida ao corpo. Deixa-te ficar. Cala-te, já disse. Fecha os olhos. Tudo lá fora importa pouco. Aqui - neste instante imobilizado na noite. Aqui os verbos nada avançam e os adjectivos pouco explicam. Mesmo tu, com os teus dias cheios - tu com horas de chegada e partida, deves e haveres - tu estás a mais. A não ser que aceites não-estar... A não ser que regresses ao sentir-ser.

Hoje é tempo de parar. De escutar sem logo retorquires qualquer teoria. Aquelas que, sem esforço, sempre surgem dando ciência ao que é sensitivo. Ao que se afirma como inexplicável. É difícil, sim... incontrolável, também. E o nó na garganta e a palpitação no peito relembram-te a cada passo. Hoje ouve o bater do coração. Apenas isso - e já é tanto. Não peças explicações ao que ele apenas constata. Que bate e não tem previsão de compasso. Tenta sentir a sua melodia. A voz que te compele a fechar os olhos. A encheres a mente de viagens possíveis e horizontes desejáveis.

Hoje acredita que é possível. Que existe uma estrada no meio do silêncio dos montes. Que algures está um sorriso que te acolhe e te devolve o que nem sabias ter perdido. Nada digas. Nada penses. Tudo aceita. É infância e os jogos de faz-de-conta dizem-te que não há tempo nem idade. Que podes saltar à corda sem medo de cair. Que podes correr descalço e sentir que o mundo se molda nos pés. Hoje sente o que não dizes. Que podes ser surpreendido. E, hoje.. podes fingir que isso basta.

Quando a estrada quase deserta te oferece os sinais... Deixa que (pelo menos) hoje possas ouvir o bater do coração.

R.

1 comentário:

c. disse...

(deixa-te ficar. e nesse bater do coração percebe que o silêncio está tão longe do vazio)