12 de setembro de 2006

Empresta-me as tuas asas

- Podes emprestar-me as tuas asas?

- Emprestar-te as minhas asas? Para que as queres?

- Gostava de ver alguns dos lugares de que me falas, quando gastamos as noites conversando um com o outro. A forma como os descreves faz-me sentir que estava lá bem melhor do que aqui...

- Não te iludas com as minhas histórias - tudo o que te contei vem da minha imaginação.

- ... Não entendo. Queres dizer que todas aquelas ilhas e cidades, com pôr-do-sol vermelho-sangue e gotas de orvalho transparentes - todos os sábios e mulheres de olhos azuis - todas as crianças de asas brancas como a cal e sorrisos de boneca-de-pano - tudo isso é mentira, nunca existiu?

- Todos esses lugares existem; e todas as pessoas de que te falei são verdadeiras... mas o que te quero dizer é que sem imaginares, todos esses lugares não passam de cidades, e essas pessoas não passam de meros habitantes. Terás de te esforçar para, finalmente, veres a alma dos lugares e das gentes. A beleza de tudo isso estará sempre em ti - na forma como conheceres e aceitares o que te é apresentado à mente e corpo. Entendes?

- Percebo... sendo assim, não preciso das tuas asas. Antes quero unir-me a ti, fundir os nossos corpos para sempre - se as histórias que me contaste, que imaginaste, são tão belas, então é em ti que quero estar, é em ti que preciso morar.

R.

1 comentário:

Nuno Guronsan disse...

E que seríamos nós sem a nossa imaginação? Aquela centelha que faísca dentro de nós e nos permite "criar" mundos diferentes do nosso, "acordar" todas as personalidades estranhas que habitam o nosso ser e corporizá-las em pessoas que nunca vimos mas sabemos que merecem existir, e fazer um desfile de todas as emoções que algum dia se nos atravessaram no nosso caminho. E que, nos dias de hoje, nos permitem ler palavras tão belas como estas que aqui deixaste, anjo.

"(...)é em ti que preciso de morar."

Um abraço.