Outras vezes, eram os cromos que me perdiam do caminho (quase) sempre directo de casa para a escola. Até hoje, não me saem da memória as caras dos jogadores do Euro 88, ali impressos num papel brilhante. Raramente acabava as colecções, porque o meu verdadeiro interesse era (sei-o agora) o momento de abrir aquelas saquetas de papel e descobrir que surpresas me reservavam. Jogadores de nomes esquisítos vindos de lugares que nem imaginava onde ficavam preenchiam-me as dias de intervalos das aulas e de lanches de fim-de-tarde. Colava os cromos mais no caderno e nos livros do que na própria caderneta, e assim ficava a olhar para eles.
Aquela mercearia de que nem me lembro já o nome era como um oásis no meio do deserto que caminhava todos os dias... faz parte de toda a memória que guardo agora da escola, de quando era pequeno. A mercearia já não existe, nem sequer o prédio onde estava. Agora um novo condomínio de cores berrantes e video-vigilância impera naquele espaço que foi, a tempos, um pouco meu. Já não compro cromos há anos; na verdade, nem lhes acho a mínima piada - os nomes dos jogadores e os lugares de onde vinham são-me agora familiares; até os visitei quase todos nos meus vôos constantes. Quanto aos chocolates, ainda os como, mas não com o mesmo prazer. Estes vêm em embalagens cuidadas, e são comprados em lojas de balcão de vidro e nome francês. Continuam bons, mas não têm o mesmo cheiro - o cheiro da mercearia que reconhecia a metros de distância.
Acho que já não existem muitas mercearias - foram substituídas por lojas dos 300 escudos (dos 1,5 euros), e por Shangri-lás e Hua-tás. Na verdade, acho que também já não existem muitos sonhos de criança - foram trocados por emoções de consola e por smiles de computador. Enfim...
R.
1 comentário:
A mercearia ao fundo da rua (a outra onde morei, não esta)...
Os chocolates que piscavam o olhos...
As colecções intermináveis de cromos de futebol, desenhos animados, e afins...
Afinidades que nos ligam e com as quais iremos sempre viver, imaginando o futuro sem esquecer o passado...
Outro abraço.
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