31 de outubro de 2006

Julgava

Julgava ser o único. Julgava que apenas comigo passavas as longas tardes em frente ao monitor. Aquelas tardes em que o tempo parecia desvanecer-se em conversas umas vezes banais, outras de um filosofia que só nós parecíamos entender.E falávamos sobre tudo e nada, como se o resto do universo nem sequer tivesse ainda sido inventado.

Toda a vida que tínhamos "lá fora" estava excluída das nossas divagações. Aparte de um ou outro comentário - «hoje acordei mal-disposta» - «hoje não me está a correr bem o dia» - dois seres existiam apenas naquele paralelo virtual, naqueles bits e bytes. Nunca percebi se inventados ou apenas ali realmente verdadeiros, esses seres assemelhavam-se feitos à medidaa um do outro.

Por isso, estranhei a razão um dia teres simplesmente não aparecido à hora marcada. A princípio, esperei por ti claro, desculpando por horas a tua falha. No outro dia, novamente senti a tua ausência - ou a falta do reflexo de mim que havia já criado em ti. Dias ou semanas depois, não sei, reapareceste da bruma. Sem sequer te desculpares. Sem sequer me explicares porque tinhas "fugido". Para ti, tudo parecia igual como dantes. Questionei-te. Não te lembraste, retorquiste. Não te lembraste porque estavas ocupada com algo certamente mais importante. E eu especado em frente a um monitor vazio de côr, ansiando por palavras tuas, pelas nossas viagens de ida-e-volta a ilhas perdidas no espaço e tempo; ansiando por ti.

Durante uma semana evitei o contacto contigo. Quis dar-te a provar o veneno que me tinha ferido. Esperava um retorno triunfante, quando admitisses que também tu agora tinhas sentido a minha falta. Mas tu nem notaste. Para ti, o tempo de carência tinha passado de forma indiferente. Para ti, era perfeitamente normal que nos tivéssemos afastado; afinal «são apenas conversas virtuais, sem qualquer ligação à realidade». Todas as pessoas com quem falavas não passavam de interlocutores para ocupar o tempo, para distraír do aborrecimento. Nesse momento, percebi que eu era mais um, que tinhas conversas de igual intensidade com outros seres enleados nesta rede de ilusões.

Não mais falei contigo. Duvido que sintas a minha falta - certamente já me substituiste por outro monitor. Outro que se recrie aos teus olhos, e que finja uma falsa cumplicidade... que eu tinha a certeza de ser verdadeira.

R.

2 comentários:

Anónimo disse...

Talvez seja presunção minha, mas tomei por bem assumir-me a destinatária da mensagem que hoje te verteu da boca, te saiu dos dedos, te rasgou a alma.
Meu anjo, foste o primeiro...e és de todo inegualável.
A minha ausencia deveu-se a inumeros factires, alguns demasiado pessoais para explicar simplesmente em palavras, sem uma troca de olhares.
Achei que o meu regresso seria encarado como inevitável...que a nossa existencia paralela (embora distante) fosse imprescindivel.
...talvez eu nao seja o destino da tua mensagem, mas as palavras tocaram-me e tal como tu sou obrigada a debitar poalavras para o papel...

e mesmo nao sendo a destinataria aproveito agora para te deixar o testemunho do meu "amor" único

"Tu que me abraças em tuas asas de fogo
e me transportas a terras de sonhos
tu que entraste por acaso e ficaste por paixao...por destino
Tu com quem tenho fugazes encontros em lugares banais (como a porta do Zoo)
Tu que me alimentas o ego quando me presenteias com palavras caramelizadas de amor
Tu que és unico, na essencia, na partilha, na alma...tu que és simplesmente TU, na presença e na ausencia...

Tu meu anjo que mesmo que um dia nao te vislumbre as asas...saberei que estas sempre lá"

Bj da tua anja azul

angel_of _dust disse...

anjinha...

...não sei que te responda, com tal declaração. apenas que estarei sempre à porta do Zoo para o almoço há mto prometido e ainda n concretizado.

... mas posso ainda dizer-te que as minhas asas deixaram de me pertencer no momento em que esbarrámos no decurso dos nossos vôos - agora, o nosso projecto terá necessariamente de passar por uma partilha e entrega - por mim fico à tua espera ;)