Saio pela rua, já noite dentro. Apenas o barulho distante dos carros - transportando, quem sabe, os últimos noctívagos - me faz companhia. A cidade está vazia; as luzes transformam-na num retrato a sépia, como se tudo voltasse atrás no tempo... freeze da vida, freeze do mundo. Não sei o que procuro, sei sim que não tenho pressa de encontrar. Saí de casa, casaco, luvas e gorro são os meus aliados nesta jornada indefinida.
Cheiro a noite - gosto do cheiro da cidade a dormir. Ouço a noite - os camiões do lixo, as vozes distantes, um ou outro cão aproveitando o seu domínio efémero. Sinto a noite - a sua pulsação aparentemente calma, a tranquila renovação de forças e desejos para o dia que se avizinha, a sua força incompreensível que, desde sempre, me fascinou.
Continuo à procura... Um parque, uma igreja, uma praça, um monumento. Despojos de uma rotina de todos os dias - meros pontos de passagem de multidões em constante frenesim. Agora, estão à minha frente como parque, igreja, praça e monumento. Agora são fotografias desta noite de insónia, companheiros mudos de viagem. Embora não me sigam, guardarão a memória da minha passagem; hoje, amanhã, sempre. Por isso mesmo, conto-lhes tudo sobre mim - o que fiz, o que farei... o que nunca levarei à frente por comodismo ou por cobardia. Só eles sabem quem eu sou. Sigo viagem...
O rio. Desde pequeno, sempre sonhei contigo - umas vezes cruzar-te a voar, outras afogar-me para que ninguém me achasse. Agora, sento-me perto de ti e olho para o outro lado. Será esse o objectivo da minha travessia nocturna? Chegar a um qualquer "outro lado"? Mas a verdade é que não me sinto insatisfeito com esta margem - afinal esta é a minha cidade - esta é a jornada que escolhi percorrer. No teu leito, os primeiros reflexos da manhã que começa a espreguiçar-se. Nos teus braços, as primeiras multidões a chegarem à cidade.
Faço o caminho de volta, percorro as mesmas ruas. Passo por um parque e uma igreja, cruzo uma praça com um monumento; agora meros pontos de orientação. Tiro o gorro, as luvas e o casaco. Continuo sem saber o que procurava. Estou em casa - estou em "casa" - estou em casa?
Cheiro a noite - gosto do cheiro da cidade a dormir. Ouço a noite - os camiões do lixo, as vozes distantes, um ou outro cão aproveitando o seu domínio efémero. Sinto a noite - a sua pulsação aparentemente calma, a tranquila renovação de forças e desejos para o dia que se avizinha, a sua força incompreensível que, desde sempre, me fascinou.
Continuo à procura... Um parque, uma igreja, uma praça, um monumento. Despojos de uma rotina de todos os dias - meros pontos de passagem de multidões em constante frenesim. Agora, estão à minha frente como parque, igreja, praça e monumento. Agora são fotografias desta noite de insónia, companheiros mudos de viagem. Embora não me sigam, guardarão a memória da minha passagem; hoje, amanhã, sempre. Por isso mesmo, conto-lhes tudo sobre mim - o que fiz, o que farei... o que nunca levarei à frente por comodismo ou por cobardia. Só eles sabem quem eu sou. Sigo viagem...
O rio. Desde pequeno, sempre sonhei contigo - umas vezes cruzar-te a voar, outras afogar-me para que ninguém me achasse. Agora, sento-me perto de ti e olho para o outro lado. Será esse o objectivo da minha travessia nocturna? Chegar a um qualquer "outro lado"? Mas a verdade é que não me sinto insatisfeito com esta margem - afinal esta é a minha cidade - esta é a jornada que escolhi percorrer. No teu leito, os primeiros reflexos da manhã que começa a espreguiçar-se. Nos teus braços, as primeiras multidões a chegarem à cidade.
Faço o caminho de volta, percorro as mesmas ruas. Passo por um parque e uma igreja, cruzo uma praça com um monumento; agora meros pontos de orientação. Tiro o gorro, as luvas e o casaco. Continuo sem saber o que procurava. Estou em casa - estou em "casa" - estou em casa?
R.
P.S. dedicado às noites longas - e quem me acompanha nelas...
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