«Desenha-me uma ovelha», dizia o pequeno príncipe. E, com ele, estava eu. Acreditávamos ambos num mundo diferente, em que a imaginação desenhava a carvão todos os nossos desejos. Tal como aquela criança, também eu pensava (sonhava?) que as grandes questões se resolviam como soluções bem mais simples. Para mim, aquele livro, aquela criança, constituíam-se como manuais de sobrevivência da alma.
Mas, agora, desiludo-me. Não basta que eu acredite - se mais ninguém o fizer, de que me serve sonhar com ovelhas e com as cercas construídas propositadamente para as guardar, se delas todos se rirem, ou pior, se as diminuirem e desprezarem? A verdade bem dura é essa, aprendi hoje: a imaginação não tem a capacidade de se auto-sustentar; precisa de uma semente, mas não passa sem sol e água. E eu, admito, não sou capaz de tudo - julgava que sim, aceito agora que não.
Com essa criança vinda de outro planeta aprendera que a realidade não era preta nem branca, mas sim tingida de uns belo tons de cinzento. Erro meu; a realidade é de todas as cores do arco-íris. Mas o que preciso é de algo palpável, e não de uma mera ilusão óptica. Neste momento, não há crianças, ovelhas, rosas e raposas que me possam auxiliar. Olho bem para a cobra, mas, por mais que queira, não consigo vislumbrar o elefante que tem dentro. Nem sequer tenho já a certeza de que tudo não passa de um amontoado de riscos num papel. Como estas palavras... Apetece-me riscá-las a partir do exacto momento em que as escrevo. Só não o faço porque preciso de um registo preto-branco-cinzento da minha alma neste estado, uma radiografia das minhas penas danificadas. Só não espero um diagnóstico - pelo contrário, temo-o.
r. (pequeno)
3 comentários:
Também eu desfolhei as páginas do principe e, por uns tempos, sonhei que o mundo podia ser um lugar melhor, em que todos nós déssemos ouvidos ao principezinho que mora dentro de nós. Um daqueles sonhos que não me importava nada que fosse importado para a nossa cinzenta realidade.
Um abraço grande do pequeno Guronsan.
Há momentos em que nos sentimos solitários nas nossas crenças de sonho e fantasia, em que não conseguimos ver para além dos rostos cerrados de quem passa por nós.
Mas importa acreditar que há um mundo melhor em cada um de nós..
Beijinhos e um sorriso:)
nuno: pois é... nunca senti inveja do cabelinho loiro do sujeito, muito menos daquele cachecolinho apaneleirado. sinto é inveja daquela capacidade quase-idiota de ver o lado simples da vida :|
elisa: sim, a minha razão acredita que há sempre algo melhor à minha espera; o problema é o coração e alma, que são bem mais permeáveis a dúvidas e angústias. um dia destes ainda os arranco de vez :P
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